Quando você é cego, acredita que as coisas serão de uma forma, sobretudo porque você é um cliente. No entanto, acontece algo que, por ser tão inesperado, não deixa de ser chocante e até mesmo um insulto.
Antes de mais nada, quero dizer que, acima de tudo, sou uma pessoa. Sim, sou surdo-cego, mas sou uma pessoa com necessidades, gostos, escolhas e, como qualquer cliente, que escolhe e usa o que lhe agrada e atrai.
Sou membro do Clube Smiles e possuo o cartão de crédito GOL Smiles Bradesco, que é uma marca compartilhada. Além disso, sou assinante do Clube Smiles. Embora possam parecer a mesma coisa, não são. A conta Smiles é gratuita, mas o Clube Smiles implica um pagamento mensal por uma certa quantidade de milhas, além de outros benefícios.
Como cliente Smiles, dou preferência a voar com as companhias aéreas associadas ao programa, que no Brasil é representado pela GOL em voos domésticos.
Acontece que, em uma viagem para prestar um concurso federal, peguei um voo com a GOL no dia 29 de agosto. Pensei comigo mesmo: "Sou membro do Clube Smiles, categoria Prata, tenho o cartão GOL Smiles, vou voar com a GOL e, como se não bastasse, paguei pela tarifa MAX da GOL, a única que permite alterações e cancelamentos sem custo extra".
Por ser membro do Clube, por ter o cartão e pela minha categoria Prata, concederam-me gratuitamente o despacho de duas malas de 23 quilos, que, neste caso, não utilizei por não ter necessidade. Além disso, tenho direito a usar a sala VIP do Galeão ou de Guarulhos com 50% de desconto, pagando e apresentando meu cartão GOL.
Eu pensei: "Como tenho uma escala de quase 4 horas no Galeão, vou à sala VIP, tomo um banho, janto, bebo um vinho..."
Os problemas começaram assim que cheguei ao aeroporto. Devo dizer que nunca tinha voado com a GOL antes. Após despachar a mala, me fizeram esperar 45 minutos para que a assistência me buscasse. Em todas as assistências que recebi anteriormente, o comum é que o funcionário o encontre imediatamente e o acompanhe pelo controle de segurança. Desta vez, não foi assim, e várias solicitações de assistência se acumularam.
Ao chegar ao Galeão, pedi ao colaborador da GOL que me auxiliava para que me deixasse na sala VIP. O que ele fez foi me levar ao balcão da GOL do meu próximo voo, no portão de embarque correspondente, onde me disseram que eu poderia ir à sala VIP por conta própria. Fiquei surpreso. Em seguida, a assistência me deixou sentado em uma cadeira sem maiores instruções, voltando a me procurar duas horas e meia mais tarde, já com cinco minutos de atraso para o meu embarque.
Nesse tempo, ninguém da companhia me ofereceu água, nem perguntou se eu precisava ir ao banheiro ou algo semelhante. E eu não tinha como pedir ajuda, pois não havia ninguém por perto e eu não conseguia identificar onde estava o balcão.
Como se não bastasse, ao ligar para a companhia para reclamar do tratamento que estava recebendo, uma das orientações foi que eu mesmo me dirigisse ao balcão para pedir a ajuda que eu já havia solicitado desde o início. Disseram-me também que a reclamação levaria sete dias para ser resolvida, como se a minha necessidade urgente e o descumprimento dos diversos benefícios aos quais eu tinha direito como cliente não importassem.
E, claro, é aqui que a Smiles dirá que não é responsável, enquanto a GOL também lava as mãos.
A seguir, deixo os links diretos para cada um dos pontos que expliquei acima, para que fique registrado que todos os benefícios que menciono são verdadeiros e constam nos sites oficiais.
Referências
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Smiles:
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GOL Linhas Aéreas:
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Cartão GOL Smiles Bradesco:
Deixo aqui minha experiência e narrativa para que saibam que, às vezes, nem tendo dinheiro ou pagando por serviços se tem a certeza e a garantia de poder usufruir deles se você tiver alguma deficiência.